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Sinopse
A fantasia é a alma de portas abertas a todas as brisas, a todos os ventos.
É uma luz inatingível na noite cerrada. É o sorriso de um gato ao sentir o afundar dos dedos na sua pelugem. É o encontro entre a alegria e o acaso. É a mais bela face do amor em todos quantos se empenham na sua busca. É adormecer um sonho na polpa dos lábios e senti-lo acordar dentro da boca. É aquilo que incessantemente se reinventa para prolongar o fascínio do voo.
Quando regresso ao mundo convulso a que pertenço, enleio-me nas ruas.
Por uns caminhos que tomo acenam-me roseiras bravias que germinam no entulho. Abandono-me a decifrar as manchas que murmuram nos muros. Escondido nas sombras, há um gume diáfano a extirpar as horas sangrentas. Deixo-me envolver por tudo que constitui o universo onde tem origem a minha identidade e define a minha ligação ao mundo.
Sinto-me longe de tudo, como se descesse a um vazio total onde assisto à apoteose do nada. Aqui, nem ecos, nem pegadas. Tudo é silencioso e deserto na rigorosa nudez que o tempo foi acumulando. Os seres e as coisas arfam por uma boca única e um olho ciclópico varre os olhares incautos, ébrios de tédio. Exausto, o dia tange a sua própria sombra. Contra o sol dissipado, palpita o teu vulto como jamais te conheci. Uma dádiva! Ferem-se-me os olhos e tenho-te como se não te visse. Deito-me na terra, sobre o musgo amargo e interrogo-me:
– Onde fica o longe?